Cidade dos Meninos, a Chernobil brasileira.

 Por Observatório Geográfico para América Latina

Placa indica local isolado de antiga fábrica de fertilizantes  (Foto: Luís Bulcão/ G1)
Placa indica local isolado de antiga fábrica de fertilizantes (Foto: Luís Bulcão/ G1)

A Cidade dos Meninos é um bairro do município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e está localizada dentro do perímetro de uma das regiões mais populosas do sudeste brasileiro. Mesmo assim, ela ainda conserva uma paisagem com predominância do verde sobre um terreno plano. Conservando traços de uma beleza rural.

Mas, se a primeira impressão do visitante é uma paisagem agradável, essa logo se desfaz envolvida pela nebulosidade de um dos danos ambientais mais complexos do Brasil atual.

A formação do bairro Cidade dos Meninos é marcada pela implantação de dois órgãos com objetivos distintos: um abrigo para crianças carentes e uma fábrica de pesticidas organoclorados. A fábrica de pesticidas, diga-se de passagem, foi importantíssima para o controle de várias doenças que assolaram o Brasil do século passado e o abrigo para crianças
deu educação de qualidade a vários jovens pobres, inclusive com ensino profissionalizante.

Em 1923, foi instalada na área uma associação civil chamada Abrigo Cristo Redentor que existia com a finalidade de assistir mendigos e menores desamparados do Rio de Janeiro.Em 1942, a Primeira Dama Darcy Vargas recebeu uma área de 3 quilômetros quadrados nesta região para instalar um albergue que ofereceria assistência e educação profissional a meninas
abandonadas. O projeto foi batizado de Cidade das Meninas, mas não chegou a ser concretizado. A partir de 1947 a localidade passou a ser chamada oficialmente de Cidade dos Meninos, mantendo sua destinação original de atendimento aos menores carentes, e passando a ser conduzida pela recém-criada Fundação Abrigo Cristo Redentor.

Dois anos após, em 1949, foi instalado dentro do bairro o Instituto de Malariologia, um órgão pertencente ao Ministério da Educação e Saúde, que ali construiria uma fabrica de inseticidas.

Em 1954 começou um processo de desativação progressiva da fábrica, que deveria ter sido fechada em 1955. Porém, em 1956, foram alocadas nas suas instalações a Fábrica de Produtos Profiláticos, subordinada ao Serviço de Produtos Profiláticos. A fabricação de pesticidas na região, contudo, começou a se tornar antieconômica, levando à decisão do governo de fechá-la em janeiro de 1961. Por motivos ainda não esclarecidos, uma grande
quantidade de pesticidas não foi removida do local.

O período contido entre 1965 e 1989 é nebuloso, há um segredo terrível onde tudo é feito para que nada desse período seja revelado, em que há total ausência de registros oficiais sobre as razões do abandono dos pesticidas organoclorados na Cidade dos Meninos. Os únicos dados disponíveis sobre aquela época são os relatos orais dos próprios moradores.

Até o meio da década de 1980 a questão dos resíduos químicos abandonados na Cidade dos Meninos ainda não era conhecida do grande público. Mas, com o acidente de grandes proporções ocorrido em Goiânia, envolvendo a manipulação de Césio 137, que alcançou repercussão em todo o país, alguns jornalistas procuraram outros relatos sobre casos de produtos contaminantes abandonados. Tomaram conhecimento da existência de um pó venenoso que era vendido nas feiras-livres do Município de Duque de Caxias.

O pó abandonado era chamado de pó-de-broca e era usado para diferentes finalidades: matar formigas, controlar pulgões em hortas, ser aplicado diretamente nas cabeças das crianças para matar piolhos etc. Os jornalistas, em suas investigações, descobriram que os vendedores do pó-de-broca eram moradores da Cidade dos Meninos e que lá existia um prédio abandonado que outrora fora usado como fábrica de pesticidas.

Hoje, os moradores da cidade são vítimas de câncer, e se sentem cobaias humanas. Os que não tem câncer, também estão doentes e não podem tentar trabalho em outra cidade, pois são discriminados. São considerados agentes contaminadores. E estão completamente abandonados tanto pelo Ministério da Saúde, quanto pela Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, pois o argumento dos órgãos citados é simplesmente de que estão monitorando aquela população, a qual, em nenhuma hipótese tem atendimento de saúde adequado a gravidade em que se encontram, onde podemos dizer que na realidade, não há esperança para aquele povo, homens, mulheres, crianças, idosos e animais.

Não é Chernobil, Hiroshima, Nagasaki, é simplesmente aqui, no Brasil, no Estado do Rio, em Duque de Caxias.


http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Procesosambientales/Impactoambiental/29.pdf

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