Por Cimberley Cáspio

Por 3 anos acompanhando o movimento das secretarias municipais de saúde em todo o país, observei a constante deslocação de veículos da saúde transportando pacientes do SUS para hospitais nos grandes centros. Geralmente esses deslocamentos são feitos durante a madrugada, pois os horários de consultas médicas, quase sempre, começam a partir das sete da manhã. Sendo assim, os pacientes partem de seus municípios ainda na madrugada conduzidos por veículos oficiais que vão desde automóveis até ambulâncias.
E já nos grandes centros, os veículos da saúde vão deixando pacientes em hospitais diferentes, e quando retornam, vão recolhendo os mesmos pacientes de hospital em hospital onde foram deixados; e todos, já embarcados, começa então a longa viagem de volta para casa. E no dia seguinte, a mesma coisa, os mesmos veículos, com pacientes diferentes, com as mesmas doenças; e em geral, câncer, a maioria. Todos os dias.
Essa observação que acompanhei por 3 anos, resultou de modo assustador ao constatar o exército de pessoas doentes que há no país, e como já mencionei, entre várias doenças, a maioria sendo câncer, posso afirmar categoricamente que a causa desse desastre está no alimento envenenado com agrotóxico digerido dia a dia pela população brasileira. Mas e o governo? Continua através da ANVISA, liberando mais e mais agrotóxico. A maioria proibido na Europa.
Na região onde estou instalado, que é uma região rural que tem sua economia baseada na lavoura e pecuária, observei a prática de jogar veneno no capim comum, a fim de plantar braquiária, que segundo proprietários rurais, “além de oferecer forragem aos rebanhos, os capins do gênero braquiária também contribuem para a estruturação do solo e, em consórcio com culturas agrícolas como milho e café, proporcionam mais sanidade ao solo e ganhos de produtividade das culturas.” Tá, tudo bem. O problema é que enquanto o veneno está agindo matando o capim comum, pássaros e outros insetos vão morrendo aos montes. Pude ver vários pássaros mortos. E se mata o meio ambiente, seguem os humanos no mórbido processo.
E em outras cidades próximas, pude constatar que quando o veneno não é aplicado durante o dia, a aplicação ocorre durante à noite.
Bem, enquanto isso, hospitais para o tratamento contra o câncer são construídos, e aí eu pergunto: como digerir tal entendimento se a causa é mantida? Como tentar salvar vidas contra o câncer se o ataque dos agrotóxicos aos alimentos básicos da população continua dia e noite repetidamente?
Um exército de gente doente. Qualquer funcionário contratado pode em um momento ficar doente e precisar se afastar do trabalho, e o mesmo acontecer com o substituto. Prejuízo para o mercado produtivo e para o país. Será que é por isso que o governo quer acabar com o concurso público? No afastamento por questão de saúde de um funcionário concursado, o pagamento e vantagens são mantidos. Da iniciativa privada, atrapalha a produtividade e a Previdência é que arca com a manutenção do benefício enquanto a doença impede a volta do funcionário ao trabalho, isso é, se ele descontar para a Previdência, sendo autônomo ou tendo carteira assinada. Se não paga a Previdência ou ganha por dia trabalhado, tá condenado. O que há por trás da reforma da Previdência? Terá algo a ver com isso?
É confuso e muito difícil entender o que o governo quer fazer. A população e o meio ambiente sendo dizimado pelo agrotóxico, fazendo a alegria da indústria funerária. E em relação a epidemia de câncer, ninguém no governo fala nada. O governo mata aos montes através do agrotóxico e ao mesmo tempo quer tratar pacientes cancerosos com a ilusão de curá-los?
Não estou aqui criticando o atual governo, o problema vem se arrastando há décadas, porém o atual governo através da ANVISA, está mantendo a mortandade quer seja de humanos, quer seja do meio ambiente, permitindo a liberação de grande quantidade de agrotóxicos. Não há boa vontade política para reverter a tragédia desse genocídio. E o exército de brasileiros doentes só aumenta dia após dia.
O que diz a ANVISA
Por Xico Graziano – engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo / Poder360
A pior praga é a desinformação. Esse é o mote da plataforma AgroSaber, lançada nesta 3ª feira (23.abr.2019) por entidades do agro brasileiro. Objetivo central: combater fake news sobre agrotóxicos. Ou pesticidas.
A iniciativa é louvável: valorizar o conhecimento científico e esclarecer a sociedade. Existem pelo menos 3 questões cruciais nesse tema, onde a desinformação anda dramática. Esclarecê-las tecnicamente fará bem a todos. Aqui vai minha contribuição:
Estarão os alimentos contaminados por resíduos de pesticidas?
O último relatório da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) refere-se à análise, entre 2013 a 2015, de 12.051 amostras de 25 alimentos de origem vegetal, pesquisando-se até 232 diferentes ingredientes químicos. Resultado: 9.680 amostras (80,3%) foram consideradas satisfatórias, integralmente conformes à legislação.
Das demais amostras, consideradas “desconformes”, a grande maioria (18,3%) refere-se a resíduos de agrotóxicos não autorizados para a cultura analisada, ou seja, em desacordo com a legislação.
Dessas, apenas 362 amostras (3%) apresentaram concentração de resíduos acima do LMR (Limite Máximo de Resíduo) –seriam as efetivamente problemáticas. A Anvisa, porém, esclarece: “Deve-se levar em consideração a detecção de resíduos de agrotóxicos em concentrações muito baixas, que, à luz do conhecimento atual, podem não arretar risco à saúde”.
Ocorre que os limites estabelecidos embutem fatores de segurança que variam entre 10 e 100 vezes. Logo, o nível de resíduo detectado das amostras coletadas pela Anvisa deveria estar, no mínimo, 1.000% acima do permitido para que pudesse se constituir em risco para a saúde humana, ainda assim para as pessoas mais sensíveis. Existe um problema, porém felizmente bem menor que o apregoado.
Agrotóxicos causam câncer?
Segundo a IARC (Agência Internacional de Pesquisa de Câncer), órgão da OMS (Organização Mundial da Saúde), as 10 substâncias cancerígenas mais comuns são: tabaco, fumo passivo, poluição do ar, exposição a raios ultravioleta, fumaça de motores a diesel, contato com formaldeídos, uso dos hormônios progesterona e estrogênio, álcool, carne processada e exposição ao gás radônio.
Não há referência da OMS aos agrotóxicos, pois inexiste comprovação científica de que o consumo a longo prazo de resíduos de pesticidas presentes nos alimentos provoque problemas graves em seres humanos.
A ocorrência de câncer somente foi demonstrada em laboratórios, com animais expostos a concentrações altíssimas desses produtos. Em condições de uso regulamentado, e restrito, podem ser utilizados com precaução no campo e nas residências (a chamada dedetização).
Por que o Brasil utiliza pesticidas proibidos na Europa?
As normativas para o registro de produtos fitossanitários seguem protocolos internacionais. Boa parte das divergências na permissão de uso de pesticidas se explica pelas diferenças e características dos ecossistemas agrícolas. No Brasil, o clima é tropical, com calor e umidade; na Europa, no Japão e nos EUA, o clima é temperado, com inverno rigoroso.
Nas regiões de clima temperado, por exemplo, não se planta café, nem cana-de-açúcar, nem citrus, culturas tipicamente tropicais que não suportam baixas temperaturas. Consequentemente, o receituário agronômico para controle de pragas e doenças não pode ser o mesmo. Certos defensivos utilizados aqui no Brasil para combate da broca-do-café estão proibidos para uso na Europa. Por quê? Porque simplesmente eles não produzem café.
A 2ª consequência da distinção agrícola entre o clima tropical e temperado se percebe no ciclo de vida dos insetos e outros patógenos. Espécies-praga são praticamente aniquiladas quando chega a neve nas regiões temperadas, reduzindo o potencial de dano nas lavouras do ciclo seguinte de produção.
Na agricultura dos trópicos, o calor constante, elevadas temperatura e umidade facilitam a contínua reprodução dos patógenos. Os campos estão verdes e as florestas idem, oferecendo abrigo e alimento para as pragas, em hospedeiros alternativos. São condições ecológicas distintas, exigindo diferentes estratégias e ferramentas de controle fitossanitário.
Há outros temas relevantes, que não cabem nesse curto espaço ser esclarecidos. Recentes notícias sobre a contaminação química da água de beber deixaram alarmadas a população. Os estudos replicados apontam resíduos, mas não informam que os níveis se encontram dentro dos padrões aceitáveis. Ou seja, não causam mal à saúde humana.
Por fim, o debate se acirra quando se discute a necessidade, ou não, de alteração das normas de registro de agrotóxicos no Brasil. Há um projeto de lei (PL 6299/2002) pronto para ser votado no Congresso, sofrendo restrições dos ecologistas.
Nesse contexto surgiu a plataforma AgroSaber, visando esclarecer a opinião pública, embasando o debate político. Trata-se, conforme definiram, de um “marketing de causa”. Salutar.
As pessoas não precisam concordar sobre tudo. As discórdias, porém, devem estar embasadas nos dados da realidade e, sempre que possível, amparadas pelo conhecimento científico.
Na história foi assim: o saber sempre vence a ignorância humana. A ciência é a melhor receita contra a desinformação causada pelas fake news. Vale para o agro, vale para tudo.
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