Por Cimberley Cáspio

O Brasil está perdendo suas crianças. E a cada tempo em que as famílias vão sendo destruídas e reduzidas, será muito raro a visão de uma criança vivendo como criança. Brincando com brincadeiras de criança.
Hoje, facções criminosas vem substituindo a família, adotando as pequenas vidas e instruindo a sobrevivência através da força, dando armas em suas pequenas mãos e ensinando a matar os “inimigos” do bairro próximo. E não ser leal significa castigo, tortura e as vezes até a morte.
O Estado historicamente nunca cuidou e protegeu a família nacional brasileira carente, e os pobres que conseguiram sobreviver, ou até mesmo ter sucesso na vida, enfrentaram todos os tipos de adversidades, entre elas, discriminação, violência doméstica, exploração, Bullying, racionamento drástico de alimentos, jornada de trabalho desumana e salário de fome.
Crescei e multiplicai-vos está ativo, porém a ação está ocorrendo fora da família, e esse desvio coloca como alvo central as crianças, onde muitas são abandonadas até em latas de lixo, e quando são encontradas, milagrosamente podem sobreviver. E se conseguem sobreviver, as chances de obterem sucesso digno e honesto são raríssimas. A maioria morre cedo vítimas de doenças ou a violência. Uma peneira cruel.
E os sobreviventes sozinhos e abandonados são logo cedo adotados por facções criminosas, que ali, temporariamente conseguem algum tipo de respeito, um salário, roupas, moradia, proteção, alimentação, mas em troca terão que matar “inimigos” da mesma idade, enfrentar a polícia do estado, e se escapar da morte e for preso, ainda terá que lutar contra a violência institucional dentro do estabelecimento correcional, que é nada mais nada menos, do que um pós-doutorado do crime. Para essas crianças e adolescentes não há segurança nem fora e nem dentro dos institutos prisionais.
Nossas crianças estão sendo destruídas de forma acelerada, principalmente no Ceará, que segundo reportagem do Intercept-Brasil, soldados infantis se tornaram verdadeiros kamikazes, enfrentando diariamente a morte sem temor e com orgulho do que fazem.
Estamos criando um Oriente Médio em terras tupiniquins? Não mais iremos ver nossas crianças brincarem? Nas comunidades carentes viverão como bichos assustados prontos a matar a menor sensação de susto? Se destroem nossas crianças, destroem nosso futuro, o futuro da Nação; será que ele ainda existe?
Fizeram um cerco sobre as crianças; um cerco poderoso; praticado por pessoas influentes. Cerco sexual, escravagista, e criminoso. Como elas escaparão disso? Quem poderia olhar por cada uma delas, seria a família. Mas, família, já seria algo do passado? Aonde em cada casa poderíamos ter a certeza de encontrar um pai e uma mãe juntos, com suprimentos básicos e bons educadores? Em sua maioria é mais fácil encontrar mães solteiras, cuidando da prole abandonada pelos pais e se alimentando com racionamento abaixo do mínimo. Não estou falando de Nordeste, e sim, de áreas metropolitanas. E no desespero para avançar com o que ainda resta de vida, loucuras são praticadas, inclusive a necessidade de atravessar a linha marginal da lei. Com as devidas exceções, se os políticos e autoridades que não precisam, atravessam a linha marginal da lei, que dirá as comunidades carentes que verdadeiramente não tem comida diária saudável, ou roupa adequada para se vestir. Só quem conhece o desespero de nada ter em casa para comer, é que sabe e entende do que digo. E alguns que tem, ainda exploram os que não tem. Não há misericórdia, não há compaixão. Ofereça 20 reais na mão de uma criança, e terá dela tudo o que quiser. Tenho raiva de falar sobre isso, mas é a verdade. Acontece em paradas de caminhoneiros, nas barcaças da Ilha de Marajó. E querem parar com isso? Pelo contrário, a miséria de uma criança é uma grande oportunidade para uma série de prazeres de uma multidão de adultos doentes. De Norte a Sul, Leste e Oeste do país.
E o que o Estado faz? Bem, o Estado usa o combate policial que é nada mais nada menos do que enxugar gelo, mas ir na profundidade da causa, não há vontade política, afinal, a vontade política para isso nunca houve e continuará assim. Polícia, escola, professor e creche, o Estado acha que com isso já está fazendo mais que obrigação. Bolsa Família, só se houver padrinho, e ainda torcer para que o padrinho não cobre prazer pelo benefício adquirido.
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