Por Redação hypeness – Fotos: Jennifer Rovero/Camraface
A Síndrome do Choque Tóxico é uma rara emergência medicinal que pode causar sérios danos ao organismo de uma pessoa e até levá-la ao óbito.
A doença não é um condição exclusiva das mulheres, mas possui uma relação histórica com os absorventes internos, como explica o médico Drauzio Varella neste artigo.
Cerca de 20% da população mundial possui uma pré-disposição a contrair a síndrome, que teve seu ápice durante os anos 1980 nos Estados Unidos, quando marcas de absorvente internos do país passaram a comunicar um aviso dos riscos em suas embalagens.
Lauren Wasser é uma jovem de 24 anos e foi uma das recentes vítimas dessa condição. Modelo, ela possuía uma vida bastante saudável. Gostava de jogar basquete por hobby e andava cerca de 48 km de bicicleta por dia.
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A história foi divulgada pela revista Vice. No dia 3 de outubro de 2012, durante período de menstruação, Lauren começou a se sentir estranha, como se estivesse gripada. A jovem foi até a farmácia e comprou o absorvente que sempre utilizou, da marca Kotex Natural Balance e interno.
Nos EUA, essa categoria de absorvente é bastante popular, mais do que no Brasil.
Mesmo sentindo-se mal, Lauren tentou comparecer ao aniversário de uma amiga, onde pensou em agir o mais normal possível. “Todo mundo disse: ‘Meu, você está péssima’”, ela lembra.
Ela, então, voltou para casa dirigindo, tirou a roupa e deitou na cama. Dormiu talvez por horas, dias, semanas… não sabe ao certo. Mas se lembra do seu cachorro, que é cego, latindo desesperadamente em seu peito enquanto alguém gritava “polícia!” na porta.
É que, preocupada, a mãe de Lauren pediu uma checagem de bem-estar, serviço policial americano quando os oficiais são enviados para ver se determinada pessoa está bem. “Eu não tinha levado meu cachorro para passear; então, havia xixi e cocô dele no apartamento todo”, lembrou ela.
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Após uma conversa com a mãe que a deixou ainda mais preocupada, Lauren voltou para a cama. Foi encontrada no dia seguinte, desacordada na porta do quarto, por um policial e um amigo.
Com febre, ela foi levada ao hospital, onde sofreu uma parada cardíaca e ficou em coma induzido. Seus órgãos estavam parando e o estado era grave.
Um especialista em doenças infecciosas desvendou o mistério. “Ela está usando absorvente interno?”, ele perguntou. A resposta positiva fez com que o produto fosse levado para análise, onde se constatou a Síndrome do Choque Tóxico.
Ela acordou dias depois, com 36 quilos de fluido sendo bombeados em seu corpo; desorientada, ela achava que estava no Texas.
“Minha barriga estava enorme. Eu tinha tubos enfiados por todo lado. Eu não conseguia falar”, ela lembra. Ao lado da cama, havia um tubo com toxinas pretas retiradas de dentro do seu corpo.
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Lauren acabou perdendo a perna direita, que gangrenou, e os dedos do pé esquerdo. Agora, está processando a Kotex.
Seu advogado, Hunter J. Shkolnik, tem histórico em solucionar casos onde pessoas processam produtos que, por falta de um aviso mais qualificado, lhe causam algum mal. “Os absorventes não mudaram desde a epidemia de SCT original. Eles só colocaram o aviso ‘Você pode ter um choque tóxico’ na embalagem. O material não muda há décadas”, ele comenta.
“Parte do nosso trabalho será mostrar para o júri que isso não tem a ver com o aviso da caixa – é sobre o fato de eles terem acesso a materiais que poderiam tornar [os absorventes internos] mais seguros há 20 anos e preferirem não os usar. Eles chamam esses absorventes de ‘naturais’ quando, na realidade, eles são feitos de materiais sintéticos que os tornam perigosos. O marketing deles faz as mulheres pensarem ‘Ah, esses são naturais, de algodão’, mas eles não são naturais, não são de algodão – e, se fossem, a chance de choque tóxico seria quase zero”.
“A síndrome do choque tóxico pode acontecer se uma mulher não tem anticorpos para a toxina ou uma produção baixa de anticorpos. Portanto, os ingredientes sintéticos dos absorventes são um problema. Os absorventes 100% algodão oferecem um risco menor, se é que oferecem algum”, afirma o Dr. Philip M. Tierno.
“Quis me matar quando cheguei em casa”
Anos depois do ocorrido, Lauren ainda sente dores e enfrenta a depressão que ameaçou lhe atingir por conta das mudanças na rotina. Com a ajuda da namorada, ela documentou toda sua recuperação em fotos e, apesar de não gostar de mostrar a prótese nos cliques, tenta manter a postura de modelo que guiou sua vida antes da doença.
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O que Lauren busca agora é transparência. Nem ela, nem seu advogado querem o fim dos absorventes internos, mas sim que os anúncios dos riscos sejam mais claros, ou melhor, que algo seja feito para evitar a intoxicação de outras mulheres.
O que mais a irrita é ver os comerciais veiculados nos Estados Unidos com meninas utilizando absorvente interno e usando biquíni ou shorts branco intacto. “Não consigo subir num escorregador, não quero nem pensar em usar biquíni, não posso entrar no mar se eu quiser”, ela lamenta. “Esse produto fodeu com a minha vida”.
Mas a vida segue e Lauren quer se recuperar. Aos poucos, tenta voltar a realizar suas atividades com as devidas adaptações, inclusive o basquete. “Se você tem jogo, você tem jogo para sempre”, ela frisa.
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