"Barcarena está podre. Podre de tudo."

"Barcarena está podre. Podre de tudo"
Por Jessica Mota | Fotos: Nailana Thiely - Agencia Pública de Jornalismo Investigativo / Editado p/Cimberley Cáspio

Parecendo mais uma Cubatão na Amazônia, a cidade de Barcarena abriga portos onde passam caminhões e navios que transportam soja, bois, bauxita e outras cargas, além de abrigar fábricas de produtos industriais – entre fabricantes de cimento, fertilizantes e coque. A economia industrial da cidade a coloca como o quinto maior polo de produção do estado do Pará. Em 2015, isso equivaleu à produção de R$ 4,7 milhões por habitante.

A presença de metais pesados nas águas de Barcarena não se resume ao ocorrido em fevereiro. Ao todo, foram 26 ocorrências de contaminações ambientais registradas em 16 anos, conforme as informações compiladas pelo Informativo Barcarena Livre, lançado em 2016 pelo Movimento Barcarena Livre, que inclui pesquisadores e movimentos sociais do município.

Destas, 15 ocorrências teriam sido causadas pelas mineradoras Hydro e Imerys, segundo o levantamento dos pesquisadores. Se considerarmos também as duas ocorrências causadas pela Hydro e reveladas em fevereiro deste ano, em 18 anos são 17 imputados às duas mineradoras.

Mas elas não são as únicas. Em 2016, o Ministério Público pediu na Justiça que a União, o estado do Pará, o município de Barcarena e as empresas Albras, Alunorte, Imerys, Votorantim Cimentos, Oxbow (que fabrica coque) e Yara (produtora de fertilizantes) fornecessem água potável às famílias afetadas pela contaminação. O processo aguarda julgamento de recurso no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.

Foi também em 2016 que o MPF, o MPPA, a Procuradoria-Geral do Estado, a Semas e a Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec) assinaram um acordo para avaliar os impactos socioambientais conjuntos das indústrias instaladas em Barcarena. As empresas deveriam apresentar estudos para que a Codec fizesse a regulação ambiental do distrito industrial de Barcarena como um todo. Deveriam.

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Sandra Amorim mora bem perto do rio Mucurupi na comunidade quilombola Sítio São João. Ela pesca quase todos os dias mas não tem mais coragem de comer os peixes que se criam no rio poluído.

[Imagem: O-rio-Murucupi-margeia-as-cinco-comunida...Ablica.jpg]

O rio Murucupi margeia as cinco comunidades quilombolas de Barcarena e é um dos cursos de água que estão contaminados pela poluição.

Depois das fiscalizações dos órgãos ambientais e das ações do Ministério Público no Pará, a Justiça proibiu o funcionamento de 50% da Alunorte, que ainda se mantém.

Um morador relatou: "a comunidade está sofrendo pra valer. Muito pelo problema da água, saúde, questão econômica, e a total falta de saneamento. Com o embargo que foi feito,A Hydro consegue segurar seu quadros, as terceirizadas não. A maioria das pessoas que moram no município, são funcionários terceirizados."

A Albras e a Alunorte, de acordo com a Hydro, empregam diretamente 2.800 pessoas e têm 1.200 funcionários terceirizados em Barcarena, cuja população estimada é de 121.190.

"Os monitoramentos e controles de indicadores como pH, turbidez e temperatura foram revisados, assim como houve a implantação de bloqueio no sistema de tratamento”, informou a assessoria de imprensa da Hydro à reportagem. “A refinaria apresenta um dos maiores sistemas de tratamento do Brasil e da América Latina e terá uma ampliação da capacidade, garantindo o uso da Estação para tratar maior volume de água de chuva. As medidas foram iniciadas em abril, seguem durante o ano de 2018 e segundo o planejado acontecem até o primeiro trimestre de 2019.”

Fonte: Agência Pública de Reportagens Investigativas / Link: apublica.org/2018/08/seis-meses-apos-vazamento-da-hydro-moradores-de-barcarena-sentem-efeitos-na-saude/


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